Por que as pessoas não usam máscaras?

          • Abordamos pessoas nas ruas e descobrimos as seis desculpas mais usadas para não usar a proteção
          • A principal causa que faz as pessoas deixarem de usar a máscara é a falta de informação correta, diz Daniel Martins-de-Souza, professor da Unicamp
          • Embora seja incômodo em alguns casos, não tem saída: a máscara é questão de sobrevivência
(6Minutos) – Com a piora da pandemia nas últimas semanas, cresceu a adesão às máscaras. Nove em cada 10 brasileiros dizem usar máscaras sempre que estão fora de casa, segundo pesquisa do Datafolha, feita entre 15 e 16 de março.

Mas se você sair às ruas vai ver que sempre tem alguém sem proteção. Por que?

“No geral, não é que as pessoas simplesmente não queiram usar máscaras. Claro que existem os negacionistas. Mas eles não são a maioria. Boa parte dos que não usam, geralmente são pessoas que não compreendem a razão de ter de utilizar a proteção. E são tanto pessoas sem instrução como os diplomados”, diz Daniel Martins-de-Souza, professor de bioquímica da Universidade Estadual de campinas (Unicamp).

Martins-de-Souza, que também é líder do Laboratório de Neuroproteômica (estudo de proteínas neurais) da universidade, escreveu recentemente um artigo no Jornal da Unicamp sobre o suo de máscaras.

Conversamos com algumas pessoas nas ruas para saber por que elas deixam de usar máscaras e identificamos seis razões alegadas para isso. A seguir, veja quais são esses posicionamentos e o que o pesquisado e o infectologista Enio Zyman dizem.

1 – “Não uso porque não acredito em nada disso”

Sim, tem gente que não acredita, ou por posições políticas, ou por se recusar a aceitar uma dura realidade. Nesse caso, elas preferem viver negando que o problema exista.

“É inacreditável que tem gente que entenda o risco, mas que se recuse ao uso e vá a festas, por exemplo. Elas sabem do risco mesmo assim se expõem. Tem um tanto aí de não se importar com o próximo e de posicionamento político”, diz o pesquisador.

2 – “Não é prioridade”

Para quem está com problemas mais urgentes, como se alimentar, a pandemia parece uma questão longínqua. É uma ameaça que parece não se materializar, ao contrário da fome, do desemprego.

3 – “Ao ar livre não precisa”

Isso é um clássico caso de falta de informação ou de desinformação. “Eu achava isso. Fui à praia e fiquei sem máscara. Mas aí vem o moço da barraca entregar a caipirinha, também sem máscara, e chega perto. Eu conversei com a moço do guarda-sol ao lado, tudo sem a bendita máscara”, conta a paulistana R. D. V., gerente de uma fundação cultural, que preferiu não se identificar. “Dias depois eu testei positivo e passei bem mal”, conta ela, que já se recuperou da covid-19. Mas seus pais e marido também foram infectados. Todos estão bem agora.

“Só dá para ficar ao ar livre sem máscara se realmente não tiver ninguém por perto”, diz o infectologista Enio Zyman. “O risco é menor que em um ambiente fechado? É. Por que o vento pode dissipar as partículas. Mas o risco existe. Não é zero de maneira nenhuma. E esse é um vírus ainda muito misterioso. Toda proteção é necessária”.

3 – “E se eu estiver correndo ao ar livre?”

Pior ainda. “Quando a pessoa corre ou se exercita, ela deixa um rastro de aerossol. Se estiver infectada, assintomática ou não, o vírus estará nesse rastro, mesmo ao ar livre e quem vem em seguida respira aquilo.

Estudos feitos na Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, e na Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda, mostram que é recomendável manter distância de até 20 metros umas das outras em exercícios físicos ao ar livre, a depender da atividade. Além do uso da máscara. O estudo mostrou que:

Na corrida: há risco quando a distância é inferior 10 metros da pessoa que está à sua frente.

Na bicicleta: há risco quando a distância é inferior 20 metros da pessoa que está à sua frente.

4 – “Trabalho no comércio. Fico tempo demais com a máscara”

J.K.S. é secretária num consultório médico próximo à região da Paulista, em São Paulo. Somando as oito horas de sua jornada mais as quatro horas que gasta no transporte público para ir e voltar, são 12 horas de máscara, direto. “Cansa demais. Irrita. Embaça os óculos. Mas não tem o que fazer. É ruim mas é melhor que ser intubada, diz a secretária.

Mas F.G.G., vendedora de uma loja de celulares em um shopping da região central de São Paulo admite: “Uso porque é obrigado. Mas na hora do almoço ou na rua, eu tiro. A máscara me dá até dor de cabeça”, afirma ela.

Dá para entender a situação dessas pessoas, segundo Martins-de-Souza. “O mesmo acontece com quem trabalha em obra, por exemplo, ou fazendo esforço físico”, diz ele.

5 – “Uso máscara. Mas tiro o nariz para fora”

Certamente você já viu muita gente assim. “Não dá para generalizar, apontando uma única razão para as pessoas usarem com nariz para fora ou no queixo”, diz Martins-de-Souza.

Mas a falta de informação tem um grande papel aqui. “Quando canso de respirar pela máscara, tiro o nariz para fora”, diz o relações públicas L.H.S, de Mogi Guaçu.

Existe aí o risco de a pessoa respirar o vírus que ficou na máscara, já que ela é feita pra isso, para filtrar as partículas do ar. “O risco de respirar o vírus da máscara existe sim, embora seja pequeno. Porém a máscara com nariz de fora é ineficiente, nada justifica”, diz o infectologista. O nariz livre estará exposto ao corona.

6 – “Tem médicos e juízes que não usam”

Realmente, tem gente com diploma que não usa e mostram isso em suas redes sociais. “Pessoas letradas, até mesmo médicos e juízes nem sempre são detentores de conhecimento. Eles utilizam seus títulos para promover opiniões pessoais. Fazem isso ou por cunho politico ou até mesmo por ignorância, por mais que tenham um título”, diz o professor da Unicamp.

O coronavírus se espalha por partículas que saem da boca e nariz de quem está infectado.

Essas partículas ficam suspensas no ar por até três horas, dependendo do ambiente. Se alguém respira essas partículas, pode se infectar. A carga viral e as condições imunológicas de cada um também têm um peso aqui.

Mas a máscara é peça chave porque ela não só é uma barreira contra o aerossol de partículas, no caso de alguém infectado, como também filtra essas gotículas, impedindo quem está respirando por perto de se contaminar.

 

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