No aniversário da cidade, fundação que preserva as obras e a memória do artista
lança série de ações para celebrar a data
(Correio) – Patrimônio Cultural da Humanidade, berço de gente vinda de fora e de gente nascida aqui. A cidade erguida no meio do Planalto Central celebra 61 anos amanhã. As comemorações, em 2021, terão de se adequar a um novo cenário, para evitar infecções pelo novo coronavírus. A Fundação Athos Bulcão é uma das entidades, entre tantas, que buscam alternativas tanto para enfrentar a crise quanto para celebrar a data com segurança.
Para iniciar o tributo, uma linha do tempo será criada, com publicações diárias, que, por fim, totalizarão 61 obras de Athos. A divulgação seguirá ordem cronológica, a começar pela Paróquia Nossa Senhora de Fátima — a Igrejinha da 307/308 Sul —, inaugurada em 1958. A capela, projetada por Oscar Niemeyer, foi também a primeira a receber obra de Athos Bulcão no quadradinho e o primeiro templo religioso construído em alvenaria na capital federal.
“Esperamos valorizar o patrimônio cultural de Brasília, do qual a obra de Athos Bulcão faz parte, e refletir, nestes novos tempos, sobre nossas ações e responsabilidades como agentes culturais para a sociedade com relação à arte e à saúde”, ressalta Valéria Cabral.
Para saber mais
A Fundação Athos Bulcão foi criada em 1992, uma Organização da Sociedade Civil do Interesse Público (OSCIP) com o objetivo de preservar as obras e a memória do artista. A entidade conserva, pesquisa, comunica, documenta, investiga e expõe o acervo de Athos Bulcão para fins de estudo, apreciação e educação.
De acordo com o último inventário feito pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Ministério da Cultura (Iphan), em 2018, cerca de 261 peças de Athos Bulcão foram catalogadas em Brasília e 30 outras espalhadas pelo Brasil, entre elas pisos, pinturas, murais, portas, painéis em azulejo, divisórias, relevos e vitrais.
“A obra e a vida de Athos Bulcão guardam relação com a própria identidade de Brasília. Em razão disso, a Fundação Athos Bulcão tem como missão institucional promover e proteger as obras desse artista, cujos trabalhos são de importância inigualável para a história da capital. Proteger as obras de Athos Bulcão é proteger a memória e a cultura de Brasília”, afirma Valéria Cabral.
Multiartista deixou a marca em Brasília
Athos Bulcão nasceu no Rio de Janeiro e mudou-se para Brasília em 1958. Foi funcionário público, atuou no Serviço de Documentação do Ministério da Educação. Nascido em 2 de julho de 1918, morou na capital federal até a morte, aos 90 anos, em 31 de julho de 2008, no Hospital Sarah Kubitschek, na Asa Sul, devido a complicações da doença de Parkinson.
Foi aluno de medicina, curso que trocou pela pintura e pela dedicação às artes visuais. Foi assistente de Cândido Portinari, a quem auxiliou no Painel de São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte.
Além do serviço público, Athos deu vazão ao talento realizando ilustrações e desenhos e atuando, também, como artista gráfico. Como escultor e mosaicista, a convite de Oscar Niemeyer, arquiteto e amigo, Athos Bulcão passou a integrar o corpo oficial da equipe responsável pela construção da nova capital federal do Brasil, em 1957. Posteriormente, fez parcerias com o arquiteto José Filgueiras Lima, o Lelé.
As obras do artista podem ser encontradas, em painéis e relevos, em diversos pontos da cidade, como o Congresso Nacional, Teatro Nacional Cláudio Santoro, Palácio Itamaraty, Palácio do Jaburu, Memorial JK, capela do Palácio da Alvorada, Aeroporto Internacional de Brasília, Cine Brasília, Parque da Cidade, Torre de TV, Universidade de Brasília e no Mercado das Flores, da 916 Sul.
Pelo conjunto da obra, recebeu vários prêmios e condecorações, como a Ordem do Mérito Cultural, recebida em 1995 do Ministério da Cultura. Na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016, Athos Bulcão foi homenageado durante a tradicional contagem regressiva. A cada segundo, voluntários formaram obras conhecidas do artista plástico.