O que faz o Magalu e outras empresas serem reconhecidas como inovadoras? Essa não é uma receita de bolo, mas se pudesse destacar três pontos para reflexão, seriam:

  1. Ouvimos os clientes, ou como dizemos por aqui ‘gastamos sola de sapato’

Pode parecer óbvio, mas questione-se e questione seus pares: “Quem passou um ou dois dias na casa do seu consumidor nos últimos dois anos?” Essa mesma pergunta foi feita junto a 3.000 executivos. Sabe qual foi a resposta? Somente dois deles, ou seja 0,006%.

Lembre-se que quase 90% de todas as startups de tecnologia falham, de acordo com a Harvard Business School. E a causa principal: market fit, também conhecido como “ninguém quer seu produto”.

  1. Pró-atividade e tolerância ao erro, ou como dizemos por aqui: “peça desculpas, mas não peça licença”.

Em 2015, o Google publicou os resultados de um estudo de dois anos sobre “O que constitui uma grande equipe”. É interessante comentar que as respostas deste estudo não foram os clássicos: pessoas seniores, com os maiores QIs ou mesmo que cometem menos erros. Ao contrário do que se imagina, o que mais se destacou como fator decisivo para formação de uma equipe de alta performance foi a segurança psicológica.

Quem levantou este termo pela primeira vez foi a professora de Harvard, Amy Edmondson. A expressão significa: crença de que ninguém será punido ou humilhado por falar com ideias, perguntas, preocupações ou erros. De acordo com a pesquisadora, as equipes de alto desempenho cometem mais erros e admitem cometê-los, porque se sentem seguras o suficiente.

Outra organização conhecida por lidar bem com o erro é o Cirque Du Soleil. Lá, são estabelecidos Safe Rooms contínuos. São espaços reservados e dedicados para membros que querem desafiar o impossível e construir o novo. Um espaço onde as pessoas se sentem confiantes o suficiente para sair em busca de uma nova maneira de fazer as coisas. Qualquer funcionário é bem-vindo a um safe room e sabem que lá estão totalmente protegidos para mostrarem suas vulnerabilidades, pois só a vulnerabilidade nos conecta. Enxergo ser fundamental criar espaço e proteger o time para que a inovação aconteça.

  1. Evolua mensurando e iterando ou como dizemos por aqui: “não acredite na bala de prata”

No campo da inovação é muito comum observar um comportamento que chamo de “a bala de prata”. Pessoas ficam na eterna busca de uma única solução milagrosa, quando na realidade a solução na maior parte das vezes é consequência de algumas ideias que evoluíram após muita iteração.

No livro Originals, de Adam Grant, o autor nos lembra que os gênios criativos não eram qualitativamente melhores em seus campos do que seus pares. Eles simplesmente produziram um volume maior de trabalho, o que lhes deu mais variação e uma chance maior de originalidade. Para gerar um punhado de obras-primas, geraram muitas peças de baixa repercussão, como por exemplo:

  • Picasso: 1.800 pinturas, 1.200 esculturas, 2.800 cerâmicas e 12.000 desenhos
  • Mozart: compôs mais de 600 peças antes de sua morte aos 35 anos
  • Einstein: escreveu 248 peças de impacto mínimo

Portanto, é mais importante colocar logo uma ideia nas mãos dos consumidores e ter feedbacks reais, do que seguir no mundo da imaginação em busca da ideia perfeita.

Quebre a grande visão em atividades de curto prazo, factíveis. Meça para ter certeza de que está indo na direção correta. Atinja o primeiro objetivo, vá para o segundo e assim por diante. É interessante determinar um período de testes para poder coletar o máximo de informações e decidir seguir adiante com o produto com os ajustes necessários ou mesmo voltar completamente para a prancheta.

O que era esperado? O que aconteceu? O que aprendemos? O que mudaremos? Dessa forma, você se mantém motivado e tem certeza que está no caminho certo.

Em suma, quantidade é o mesmo que qualidade. Em uma etapa média de ideação e discovery no Magalu geramos mais de 150 ideias, das quais menos de 5% chegam aos consumidores em um MVP (Minimum Viable Product ou Produto Mínimo Viável). Um produto ou serviço, independentemente de ser físico ou digital, nunca está pronto. Ele é orgânico e exige um trabalho contínuo de mensuração e evolução.

Quando nos maravilhamos com pessoas inovadoras, altamente criativas, que promovem mudanças no mundo, tendemos a crer que são pessoas iluminadas, que têm um dom. Não são. São apenas pessoas que somam ferramental com uma grande dose de atitude. São pessoas que lidam bem com incertezas e ignoram a aprovação social. Pessoas que não se preocupam com os custos da não conformidade da mesma forma que a maioria e transformam o mundo acima de tudo porque trabalham muito duro e estão dispostas a correr riscos e dar um salto de fé.

Inovação só acontece com execução e esse é um exercício muito maior de resiliência, perseverança e análise do que de rompantes criativos. Centenas de pessoas em todo o mundo têm a mesma ideia quase que ao mesmo tempo, mas apenas uma destas cem consegue executá-la. Grandes ideias não servem para nada se não forem aliadas à persistência.

Não devemos nos preocupar em ter a ideia mais original do mundo, a ideia perfeita. É preciso focar em identificar grandes dores existentes no mundo, criar formas simples e rápidas de resolvê-las, ouvir usuários e continuar evoluindo o produto. A ideia sempre será transformada durante a execução. Por isso, é preciso pensar, executar, avaliar e repetir. É preferível uma ideia média, bem executada, a uma ideia sensacional que fica no PowerPoint.

Como disse Peter Drucker, um dos maiores visionários, pai da Administração moderna, “ideas are cheap and abundant, what is of value is the effective placement of those ideas into situations that develop into action.” (Em português: ideias são baratas e abundantes, mas o que tem valor é a efetividade dessas ideias em situações que se transformam em ações).