Por Antônio Carlos de Almeida Castro – Kakay, do Poder360
“Na minha terra há uma
estrada tão larga que vai
de uma berma a outra.
Feita tão de terra que
parece que não foi
construída.
Simplesmente,
descoberta.
Estrada tão comprida
que um homem pode
caminhar sozinho nela.
É uma estrada para onde
não se vai e nem se
volta.
Uma estrada feita
apenas para
desaparecermos”.
- Mia Couto, poema Estrada de terra, na minha terra
“O correr da vida
embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta
e esfria, aperta e
afrouxa, sossega e
depois desinquieta.
O que ela quer da gente
é coragem”.
- Guimarães Rosa
“Fator universal do
transformismo.
Filho da teleológica
matéria.
Na superabundância ou
na miséria.
Verme – é seu nome de
batismo.
(…)
Almoça a podridão das
drupas agras.
Janta hidrópicos, rói
vísceras magras.
E dos defuntos novos
incha a mão…
Ah! Para ele é que a
carne podre fica,
e no inventário da
matéria rica,
cabe aos seus filhos a
maior porção”.
- Augusto dos Anjos, poema O Deus verme
“não gosto de ver tanta
água reunida
sei que é o mar
mas nada é o que parece
visto que Guantánamo
o mar são grandes de
infinitas tessituras
visto que Gorée
é o marulhar
multissecular de
lágrimas exangues
preferia que a água se
dispesasse”.
- Boaventura de Souza Santos