(6Minutos) – A perspectiva de agravamento da crise fiscal e o horizonte político de 2022, ano de eleição presidencial, aumentam os temores associados ao chamado ‘risco Brasil’, que pode impactar na cotação do dólar. Hoje em patamar considerado elevado, o valor da moeda americana costuma registrar flutuações mais acentuadas em períodos de incertezas, como aqueles que antecedem a escolha de um novo chefe de Estado.
As projeções para o dólar de 2022 variam de R$ 5,50 a R$ 5,80, mantenho a moeda americana em patamar elevado. O C6 Bank revisou sua estimativa para o câmbio de R$ 5,60 para R$ 5,80 no final de 2022. “A depreciação do real projetada para 2022 ocorre parcialmente em função da alta esperada da dívida líquida do governo no ano que vem”, afirma relatório do banco.
De acordo com projeção da Guide, a moeda estrangeira deve ter valor médio de R$ 5,55 ao longo do ano que vem, mas com variações mais amplas de preço, motivadas justamente pelas incertezas.
“Acho que no fim de 2022 teremos um dólar entre R$ 5,50 e R$ 5,60, mas no meio do caminho haverá muita volatilidade. Uma parte dos fundamentos que devem levar a um aumento do dólar já foram previamente precificados pelo mercado, por isso não vejo tanta possibilidade de um aumento expressivo de forma mais sustentada.”
Aprovada em primeiro turno no Senado no último dia 2, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios estabelece limite para o valor despendido pelo governo no pagamento de dívidas de natureza judicial e abre espaço para R$ 106 bilhões a mais em investimentos. Parte desses recursos serão utilizados no financiamento de parcelas mensais de R$ 400 aos beneficiários do Auxílio Brasil.
Na prática, a medida representa a ruptura do teto de gastos, política implementada em 2016, também por meio de emenda à Constituição, que limita os gastos da União ao Orçamento do ano anterior corrigido pela inflação. Para a analista da XP Jennie Li, apesar de comprometer a saúde fiscal do país, a PEC dos Precatórios indica de quanto deve ser o aumento dos gastos públicos e de onde sairão os recursos para financiá-los
“Incertezas fiscais e políticas aumentam o dólar. Se (a PEC dos Precatórios) não passasse, seria pior, porque haveria mais incertezas. O governo poderia declarar estado de calamidade, por exemplo, aí seria mais incerteza, que é o que o mercado menos gosta”, argumenta.
Outro fator que pode afetar o câmbio em 2022 é a possível elevação da taxa de juros dos Estados Unidos. O Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, a manteve entre 0% e 0,25%, como forma de estimular o crescimento econômico em meio aos efeitos recessivos da pandemia do novo coronavírus.
“Quando a economia mais segura do mundo oferece uma recompensa maior pelo capital, a tendência é que haja sempre um fluxo de recursos para lá. Isso contribuiria para a desvalorização não só do real frente ao dólar, mas de todas as outras moedas”, projeta Beyruti.