Na semana em que foi obrigada a fechar 1.100 lojas físicas espalhadas pelo país, a empresária Luiza Heleno Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, não esperou que ninguém lhe perguntasse o que ela poderia fazer para ajudar o Brasil.
Sua primeira providência foi pensar em alternativas para não ser obrigada a demitir funcionários em meio a uma tempestade que, segundo ela, pegou todo mundo. E cujos os efeitos ainda não foram totalmente dimensionados. Luiza Trajano colocou, de uma só vez, 20 mil trabalhadores de férias.
Em seguida, ajudou a organizar o manifesto ‘Não demita’ com outros empresários também dispostos a preservar funcionários que dependem de seus salários e de suas empresas. A ideia é evitar as demissões por 60 dias. O compromisso teve início no dia 1º de abril e acabará no fim de maio. Algo desafiador em tempos tão bicudos.
Cerca de 50% do faturamento do Magazine Luiza, por exemplo, vem das lojas físicas da empresa, que foram fechadas em 23 de março passado. Passados 40 dias, apenas 300 voltaram a funcionar nas cidades em que as prefeituras decidiram flexibilizar as medidas de isolamento. De qualquer forma, Luiza Trajano conta que os funcionários de grupos de risco seguem afastados do trabalho. E dá graças a Deus de até agora não ter perdido nenhum empregado para a covid-19 e ter apenas um internado.
Em palestra na última terça-feira (28.br.2020) na Amcham (Câmara de Comércio Brasil- Estados Unidos), que a elegeu em janeiro personalidade do ano 2020, a empresária disse que quando percebeu a dimensão da crise sanitária que estamos enfrentando, foi estudar as experiências econômicas nos períodos pós-guerra. Com uma equipe de especialistas do IDV (Instituto de Desenvolvimento do Varejo), onde é conselheira, começou a formatar um plano de ação para minimizar os efeitos econômicos da pandemia.
“Meu dever de cidadã!”
Não satisfeita, foi atrás da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. O plano de ação idealizado pelo IDV foi compartilhado com a secretaria de Trabalho do ministério, que adotou uma série de sugestões encaminhadas pela empresária. Outra preocupação sua, diante da tensão do mercado, foi acalmar e explicar a outros empresários as medidas adotadas pelo governo federal. “É meu dever de cidadã”, acredita.
Convencida de que “aquela normalidade não vai voltar” e que “as lojas físicas vão sobreviver, mas com um novo formato”, Luiza Trajano diz estar preparada para aceitar a nova realidade. Na sua opinião, grande parte das mudanças passam pelo digital.
A inovação tecnológica, segundo a empresária, foi o que garantiu que sua equipe, em 8 dias, ampliasse o sistema de vendas já utilizado pelo Magazine Luiza dentro do Facebook e transformasse comerciantes autônomos, impossibilitados de trabalhar por conta das medidas de isolamento, em parceiros.
Mais de 160 mil pessoas se cadastraram na primeira semana e hoje 20 mil são ‘Parceiros Magalu’. Eles tanto podem selecionar produtos da empresa para vender e receber comissão por cada item vendido, como estão autorizados a oferecer seus próprios produtos dentro de uma plataforma de comércio eletrônico forte.
Luiza não parou por aí e comemora agora o fechamento de uma nova parceria para dobrar o marketing place de sua empresa, abrindo espaço para que associados do Sebrae possam também ter acesso à plataforma de e-commerce do Magazine Luiza, onde hoje já são oferecidos os mais diferentes tipos de produtos, de pneu, álcool em gel até artesanato.