Por Tainá Andrade
(Uol) – Os noticiários, diariamente, nos contam histórias contraditórias. Informam crises, mostram violências cotidianas, mas também exibem debates construtivos, diferentes mobilizações de solidariedade.
O período pandêmico tem evidenciado uma nação desalinhada. As condutas individuais destoam do esforço coletivo pela vida e de uma imagem cristalizada no pensamento de um povo “hospitaleiro como um traço definido do caráter brasileiro”, mencionada em 1936, pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil – embora a “cordialidade” mencionada por Holanda seja relacionada a tudo que vem do coração, capaz de grandes afetos e de violência. O autor passou o resto da vida explicando o que é o “brasileiro cordial”.
Uma pesquisa, divulgada em 2016, pela Universidade de Michigan (EUA), prova algo de que já se desconfia. Num comparativo entre países, o Brasil está em 51. lugar, em um ranking de empatia. Foram avaliadas 63 nações.
Onde o povo brasileiro começou a apresentar essa dicotomia? Segundo o professor Deusdedith Rocha, a ideia de que há uma “natureza humana” foi reforçada no iluminismo, com as ideias dos filósofos Thomas Hobbes e de Jean-Jacques Rousseau. O primeiro pensador dizia que o ser humano é mau por natureza, ao passo que o segundo sugeriu sermos bons genuinamente.
“O problema disso é que acabamos deixando de lado muitas coisas que interferem no comportamento humano”, explica o professor. “No caso do Brasil, os colonizadores se habituaram em dizer que o país é uma dádiva de Deus. Fizeram grande esforço para compor uma história que afirma: os brancos colonizadores construíram tudo com a ‘ajuda’ de africanos e indígenas. Mas os conflitos sociais entre nós sempre foram muito cruéis. Houve um apagamento da crueldade da nossa história e dos intensos conflitos que ela sempre teve”.