Muquirana ou econômico? Saiba o limite entre o saudável e o patológico

(6Minutos) – Todo mundo tem uma maniazinha de economia. O problema é que a pandemia pode ter acentuado o que era um hábito inofensivo, transformando-o em um problema.

Assim como em épocas de vacas gordas é comum encontrar pessoas que gastam descontroladamente, o contrário também acontece em dias mais sisudos.

Tem gente que tira todos os aparelhos da tomada durante a noite. Alguns reutilizam o filtro de coar café. Outros pedem desconto em tudo que vai comprar. Há quem compre tirinhas na feira para não jogar fora a havaiana quebrada.

E existem os que fazem pior, como Julius, do seriado “todo mundo odeia o Chris”, que sempre repete seu lema: “se eu não comprar nada o desconto é maior”.

A carioca e criadora de conteúdo Desirrè Andrade é fã de Julius. “Sou muito controlada com os meus gastos. E tenho várias manias: reaproveito aqueles copos de vidro de requeijão, desligo tomadas à noite, não fico fazendo lanches na rua quando saio para comprar algo. A gente precisa controlar esses pequenos gastos. Mesmo que isso signifique mais tempo e energia. Vale a pena, porque quando você vê, se deixar, já gastou R$ 100, R$ 200 e tudo à toa”, diz ela.

Desirrè diz que sempre foi econômica, mas na pandemia a coisa chegou a outros níveis. Assim como todo mundo, ela diz que está mais preocupada com dinheiro e em diminuir seu consumo.

“A gente acaba ficando mais tempo no smartphone. Só que é tanta tentação, tanto anúncio. Então eu desligo o celular para não cair em tentação e vou dançar ou fazer algum hobby”, afirma.

Economizar, pra ela, é uma questão de ter dinheiro guardado para outras prioridades.

Mas até isso a pandemia mudou. Para jovens como Desirrè, as prioridades eram cursos, comprar óculos legais, uma viagem, coisas especiais. Agora, essa poupança tem que estar a postos para emergências como desemprego, falta de renda, aumento de preços repentinos…

Controlar as finanças é algo que te dá poder. É bom. Ajuda até a dormir melhor. Mas numa época de crise e insegurança, como uma pandemia, fantasmas como o do desemprego ou o da perda de renda podem se tornar realidade num piscar de olhos.

E perdas financeiras geralmente trazem consigo muita tensão emocional, exatamente quando as pessoas têm menos probabilidade de gastar dinheiro para cuidar de si mesmas.

“O medo de não saber como vai ser o dia de amanhã, de não saber se você vai ficar doente, de não ter garantia de emprego, de ver lojas fechando, de um lockdown, de não ter como se bancar, tudo isso pode fazer manias inofensivas, como a de economizar, se agravar e virar uma compulsão”, diz a psicóloga e psicanalista Rosana Sakabi, de São Paulo.

Isso aconteceu, por exemplo, com gerações inteiras que passaram por períodos traumatizantes, como a Segunda Guerra Mundial. Quem nunca conheceu aquele senhorzinho que guardava até papel de embrulho para usar de novo?

Durante períodos de crise, como a pandemia, surtos de ansiedade e estresse se agravam, mesmo que a pessoa não tenha predisposição para isso, diz Rosana.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2020 pela Associação Brasileira de Psiquiatria, 47,9% dos psiquiatras entrevistados perceberam haver aumento nos atendimentos realizados após o início da crise. E 89% dos médicos entrevistados relataram agravamento de quadros psiquiátricos nos pacientes.

Como saber se você cruzou a linha do saudável?

  • Seus hábitos de economia diminuem seu relacionamento com familiares e amigos e te deixa mais sozinho?
  • Você gasta muita energia pensando em proteger seus bens e dinheiro e mesmo assim se sente inseguro?
  • Você exclui o lazer e a diversão totalmente da sua vida?
  • Você vive traçando estratégias de como acumular mais dinheiro e não ter outros pensamentos?
  • Seu único assunto com as pessoas é economizar?
  • Sente angústia ou medo se precisar usar parte do dinheiro que está guardado?
  • Quando pensa no futuro só imagina cenários negativos?

O que fazer?

É bom procurar ajuda se você se identificou com essas questões. Até porque pessoas mais compulsivas podem ser também mais impulsivas, diz a psicanalista Rosana. E por essa razão, segundo alguns especialistas, estão mais sujeitas a serem enganadas por estelionatários com promessas de ganhos rápidos e altos.

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