Pandemia faz surgir um novo tipo de cansaço

Sem ser claramente mental ou física, a exaustão pandêmica

se asselha a um quadro de tensão permanente.

A indefinição sobre o tempo que demorará para voltarmos à vida normal

e a impotência diante do cenário estão entre as principais causas

desse cansaço típico da quarentena.

(6 Minutos) – Um novo termo começa a circular no meio médico: exaustão pandêmica. Refere-se à percepção de que as circunstâncias em torno do covid-19 estão fazendo surgir um novo tipo de cançaso, que não é propriamente mental, nem físico, e sim uma mistura imprecisa dos dois.

Na vida que costumávamos ter, a estratégia recomendada para lidar com o cansaço era oscilar entre atividades físicas e mentais. Com a pandemia, as fronteiras entre umas e outras se tornaram menos claras.

Agora, tudo está acontecedendo simultaneamente no mesmo espaço, a casa. As pessoas lavam a louça enquanto têm uma conversa de trabalho, cozinham enquanto ouvem um curso, tentam fazer ioga com o cachorro pulando em cima.

O cansaço da impotência

Todo mundo é capaz de identificar causas objetivas para a sensação de cansaço, como as tarefas domésticas, a presença das crianças em casa em tempo integral, as preocupações com o trabalho, as condições ergonômicas nem sempre adequadas ao home office, a tensão cada vez que é preciso sair de casa, o receio de que pessoas queridas fiquem doentes.

Tudo isso é secundário, contudo, na avaliação do psiquiatra Francisco Baptista. “Estamos vivendo um período de luto e de melancolia, com muitas perdas, de vários tipos. E não há prazo para que isso termine, o que potencializa muito a sensação de tristeza”, ele avalia.

Para Baptista, a sensação de cansaço associada ao cenário atual pode ser resumida por uma palavra: impotência. “Não há nada mais cansativo do que ser obrigado a simplesmente aguardar, sem poder agir efetivamente para mudar uma situação que provoca angústia. Quem já ficou numa sala de espera com um ente querido numa UTI sabe como é essa sensação de cansaço provocada pela impossibilidade de agir”, ele compara.

Manter contatos frequentes com pessoas queridas durante a quarentena é a ação que o psiquiatra classifica como o melhor antídoto para lidar com a exaustão pandêmica. “A tecnologia nos possibilita essa oportunidade de compartilhamento, mesmo com a distância física, algo que não estava disponível para nossos antepassados que enfrentaram situações semelhantes, em pandemias ou guerras. Isso faz muita diferença”, diz Baptista.

 

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