Poesia em tempos de pandemia

Por Kakay, Poder360

“Morrer
como quem desagua sem mar
e, num derradeiro relance,
olha o mundo
como se ainda o pudesse amar.

Morrer
depois de me despedir
das palavras, uma a uma.

E no final,
descontada a lágrima,
restar uma única certeza:

não há morte
que baste
para se deixar de viver.”

Mia Couto, Aprendiz de ausências

 

 

Candido Portinari, o poeta, no poema sobre a pintura Enterro:

Quantos mortos vi passar! Vejo ainda

Os enterros dobrando a praça. Homens silenciosos e escuros, vindo das fazendas distantes.

Trazendo o caixão negro,

cansados do longo caminhar.

Meu cérebro se enchia de caixões pretos,

Assombrações. Pavor.

Alguém mais velho vinha

Fazer-me companhia.

Ao amanhecer o sol afugentava

Todos os medos.”

 

 

Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego:

Nunca encontrar Deus, nunca saber, sequer, se Deus existe!

Passar de mundo para mundo, de encarnação para encarnação, sempre na ilusão na ilusão que acarinho, sempre no erro que afaga.

A verdade nunca, a paragem nunca!

A união com Deus nunca!

Nunca inteiramente em paz, mas sempre um pouco dela, sempre o desejo dela.”

 

 

Vinicius de Moraes, na sua Ausência:

Deixa secar no meu rosto

Este pranto de amor que a presença desatou.

Deixa passar o desgosto

Esse gosto da ausência que me restou

Eu tinha feito da saudade

A minha amiga mais constante

E ela a cada instante

Me pedia pra esperar

 

E foi tudo que eu fiz

Te esperei tanto

Tão sozinha no meu canto

Tendo apenas o meu canto pra cantar

Por isso deixa que o meu pensamento

Ainda lembre um momento a saudade que eu vivi

A tua imagem fiel

Que hoje volta ao meu lado

E que eu sinto que perdi.

 

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