Um pouco de poesia

Por Kakay, Poder360

 

“Estou sentindo uma

clareza tão grande que

me anula como pessoa

atual e comum: é uma

lucidez vazia, como

explicar?

Estou por assim dizer

vendo claramente o

vazio.

 

E nem entendo aquilo

que entendo: pois estou

infinitamente maior que

eu mesma, e não me

alcanço.

 

Além do que:

que faço desta lucidez?”

 

Clarice Lispector, em A Lucidez Perigosa

 

 

 

“O sangue derramado

não regressa

nem se aproveita

para as sobremesas da

morte

pedaços do medo

sempre difíceis de

juntar”

Poema O Touro Confessa-se, de Boaventura Sousa Santos

 

 

 

“Tenho uma confissão:

noventa por cento do

que escrevo é invenção;

só dez por cento é que é

mentira”.

Manoel de Barros

 

 

“Saio de meu poema

como quem lava as

mãos.

Algumas conchas

tornaram-se,

que o sol da

atenção cristalizou;

alguma palavra que

desabrochei, como a um

pássaro.

Talvez alguma concha

dessas (ou pássaro)

lembre,

côncavo, o corpo do

gesto

extinto que o ar já

preencheu;

talvez, como a camisa

vazia, que despi.”

João Cabral de Melo Neto

 

 

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